1 de Janeiro - Apontamentos
Raiva, raiva contra o morrer da luz
Dylan Thomas
1.
Bombas estouram sobre a cidade
e nós aqui: apartados de todo o resto
em desterro ou talvez em fuga.
O amor também pode ser quietude
e medo e ternura – enfim, uma alegria
que incendeia a si própria
e que talvez não renasça.
2.
Observo Margot. Ela tem olhos alegres
e agita fitas amarelas e roxas
para a euforia do gato pequeno.
Entre uma risada e outra, ela
ergue o rosto afogueado e pergunta
Por que ele cresce?
(embora o que eu entenda seja
Por que ele morre?)
Mais bombas explodem. No cômodo ao lado
ouço vozes ao redor da mesa.
É terrível que todos ainda estejam vivos
e que Margot ainda brinque e que
o gato pequeno ainda seja pequeno:
Tanto lixo haverá de vir
e se o silêncio não soterrar as nossas vozes
haverá de mudá-las em um murmúrio
que se esbaterá como a fraturada luz
antes de se romper.
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É tão instigante ver como a sua poesia é tão deste tempo. Belos poemas que não mais esperava ler e que dizem tanto. Sim, devo-lhe um e-mail. O frio para este lado tem sido muito e tolhe-me as mãos, com excepcão dos versos que vou escrevendo e de uma ou outra nota para o Vírgula. Abraços.
ResponderExcluirFrio é uma metáfora, embora seja tempo dele, não é ese que me tolhe.
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