Das meninas que vejo, Julia é a mais alegre
porque Julia é a mais jovem entre todas –
e se há algo que adoro, é essa frágil crença
que atribui a mais impoluta luz
àquilo que é mais tenro. Assim
- como se fosse nascida estrela de maio -
vejo Julia a rir, vejo o rosto de Julia
ser corado por mais do que sangue (lume
feito de amores tão primordiais quanto falsos)
e vejo a sagração do que floresce
para a colheita: seios ainda pálidos
e febris, raízes que vão do coração
às menores palpitações do gozo.
Pois Julia, irascível retorno da beleza,
é a promessa de que alguma ordem
pode ser extraída das tardes de esplendor
e mesquinhez – Julia, enfim,
é como o claro dia em que
homem como eu não pode mais ingressar.
TAUANA
Há quem ingresse no tribunal
sem nunca lamentar as tardes perdidas.
Espero que Tauana – a terceira
entre as meninas do Ministério Público –
escape dessa sina.
Sobre ela sei tão pouco. Até os risos
que me dirige soam exilados do que existe
no rosto ainda lacerado pela puberdade.
Sei apenas, ou melhor, apenas adivinho
que o seu corpo, quando tomado,
é túrgido rubro e rígido
como as prematuras ameixas de novembro;
uma dessas frutas cujo primeiro sumo
é de uma acidez além do suportável
e a cujo esgotamento, de tão inconsolável,
um homem reage com ternura
quando deveria ser violento, e com violência
quando deveria ser apenas terno.
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