Tantas vezes coube o céu em meus olhos
que o próprio céu se mudou em raiz
saída da fundura mais doída.
Entrava nova estação e eu sabia
que luar a cingiria e qual fogaréu
traria as cinzas do dia futuro.
Era belo, mas também magoava
e deste encanto onde cantos eu
buscava vinham a idéia de que Ítaca
era minha e era o que me bastava.
Em Ítaca, mar e céu são inteiros.
Mas Ítaca não existe se não
existe casa para trás deixada.
Preciso é que a distância se desdobre
não em algo maior ou nunca visto
mas em algo que o sangue não conheça
como seu, ainda que imagens gêmeas
sejam dos muitos dias repetidos.
Eis o luar, e o lusco fusco,
e a luz embebida em luz, fogo leve,
não diferente da brandura de abril
embora lá fosse a agonia de setembro.
Um mundo multiplicado em espelhos
é imenso ou é repetição?
Longe, encontrei beleza daqui
diversa, mas o que me aturdiu
é que o pólen de todo o coração
é soprado por um único deus
ou é vestígio de única ruína.
Longe, outras ítacas encontrei
e quanto mais eu as tornava minhas
mais a casa deixada para trás
era dor que ia do branco ao vermelho.
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Excelente poema, Daniel!
ResponderExcluirMuito obrigado, Amélia. A sua constância por aqui é algo que me deixa alegre.
ResponderExcluirBonito, bem feito. Mas foi escrito pra você.
ResponderExcluirBeijo.
Entre as Ítacas deixadas para trás e aquelas que virão, a busca... a vontade de retornar e a insatisfação. Por que? Sinto que, como já disse outras vezes: algumas pessoas encontram um lugar pra chamar de seu e isso basta a elas; outras procurarão a vida toda e não encontrarão.
ResponderExcluirA vontade de retornar à Ìtaca é a vontade humana de pertencer. E a impossibilidade de sanar a dor da ausência e a sensação de não pertencimento é a constatação da alma que angustiada e atormentada, volta e meia, olha perplexa para si mesma...