1.
Porque um homem não a teve, Laura,
uma primeira canção foi criada
para ti, também a primeira amada
que não foi sombra, mito, ou aura.
2.
Dia ou noite, basta ter longo olhar,
para saber de Laura: o verdor
dos arvoredos e o negro calor
são sementes no coração sem par.
3.
Se falo da tristeza das vazantes
é porque sei do rio cuja nascente
é o fundo beijo de Laura – fremente
eco de sereia sussurrante.
4.
Fim de tarde, caem seguidos véus
sobre Laura; langor e silêncio tornam
o corpo manso; da chuva retorna
a doçura dos olhos cor de mel.
5.
Canta Laura: a infância foi fruto
de polpa escarlate e casca amarela.
Pousava a noite sobre a casa velha
e eu não temia o que era maduro.
6.
Laura descalça em terra semeada,
os seus pés esmagam o hortelã –
não importa que a vida seja vã
se existe canção pelo sol manada.
7.
Ainda ouço o grilo e a última estrela.
Laura aqui dormiu, junto às ninhadas
que à vida aportavam. Aurora opaca
também mata o jasmim e a açucena.
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Lindos! Adoro acompanhar tudo o que escreves, Daniel.
ResponderExcluirBeijo.
Muito vbom, amiga!
ResponderExcluirRetifico:
ResponderExcluirMuito bom, amigo!