No breu que recrudesce
há jardins em ruínas,
negros entre os arvoredos
e um apetite canino.
Do prédio que se fecha
saem rostos pisados
por verbos repetidos:
acordar, caminhar.
Tenho lama nas barras
da calça e um vapor
de tabaco soma-se
à treva gotejante.
O néon é luar
vermelho, liquefeito,
disperso na sarjeta
como raiz convulsa
na quadra fértil do ano –
raso sopro que o tempo
tem para germinar
os cabelos dos mortos.
Chove e o mais doído
é o fim do aguaceiro:
sujo bafio dos becos
quando finda o dilúvio.
A umidade que resta
(e que ainda goteja)
é a água estragada
e os seus podres perfumes:
casas esboroadas,
resto azedo do almoço,
grosso fedor dos cães
que no quintal secaram.
Um quarto é uma fuga
mas nenhuma fuga é
coração estanque,
sem sangue nas paredes.
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Gosto particularmente da segunda estrofe. Touché.
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