sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cadernos de Viagem: Tudo Continua

Não pertenço a estas planícies
ou pântanos, ou montanhas
de uma terra que para mim
é o norte não apenas físico
mas também o norte de um espírito
que eu quis tornar meu: uma carícia
tida em sonho e que ainda continua
pois tudo continua. Os fantasmas continuam
ainda que ninguém evoque os seus nomes
e também os sonhos continuam
ainda quando evaporados e ainda
quando o ar da tarde parece certo
e sem dores e assim sem dores
o amor continua
ainda quando apenas um solitário riacho
flui por um coração que apenas se desbrava
durante aventuras em novos e estranhos mares;
novos e estranhos e perdidos mares que continuam
qual o passado continua
e com o passado todas as sombras continuam;
todas as sombras que avançam,
todas as sombras que se tornam transparência
de pálido júbilo ou pálida morte - vazio
róseo ou dourado ou carmesim
que escava o céu naquela hora
em que nada existe para que tudo exista.


                                                                   escrito em Dallas, quarto de hotel.

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