domingo, 24 de julho de 2011

Julho

No céu, nenhuma sombra. É o sol
que volta a ser maciço.
Cintila e fere os olhos, embotando-os
e embotando a imagem
que para si cada homem construiu.


As árvores já mortas
e ipês de cores já plenas pontuam
uma única avenida.
Ainda se evapora o último orvalho
e o calor é silêncio.


Trabalho que não cessa, caminhões
que toldam o ar de negro,
o almoço gorduroso feito às pressas
e pesado o torpor.
Não há corpo que não queira dormir.


Raivosa e crua luz meridiana
e o seu coração sujo.
O céu é torvelinho. Lancina a tarde.
Um vento carmesim
torna ásperos suor e epiderme.


Se os dias são poemas
são poemas que integram alfarrábios
que toda a gente leu
sem saber que leu – elegia vinda
dos pianos da infância.


E se os dias são poemas, os versos
ardem como esta luz
trêmula e sôfrega que corta o ar
e que ateia fogo às asas dos pássaros.
Cinzas que toda a gente
respira como se não respirasse.

2 comentários:

  1. Daniel: deixas-me publicar este teu poema nio eu blogue?
    Beijos amigos, com o desejo de que um dia voltes à lista...

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  2. Mas é claro que pode pode postar o poema no blog. Apenas observe que alterei um verso na segunda estrofe. Abraços, Daniel

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