Margot esteve muito triste nos últimos dias de agosto, mas em setembro veio o esplendor.
Não sei se (re) nasceu em nós a vagabundagem juvenil, não sei se foi o abandono que sempre surge no encalço da tristeza, ou se foi a ternura pelas coisas vivas. Perdemos muitas tardes perambulando pela cidade. Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos um plano de vida comum: ela desenhara a planta do nosso futuro apartamento e íamos de comércio em comércio, conversávamos com os vendedores, pesquisávamos preços, escolhíamos móveis que nunca poderíamos comprar.
Mas isso não foi o principal daqueles dias. Sabíamos que em nosso apartamento haveria um coelho e naquela semana chegamos a visitar todas as lojas de animais da cidade. Os coelhos mais bonitos não estavam nas lojas chiques e perfumadas – os que mais nos agradavam eram os coelhos daquelas lojas de bairro, os quais ficavam apertados em gaiolas minúsculas e eram vendidos para abate.
Às vezes Margot julgava um coelho mais bonito do que os outros e, com desespero na voz, dizia:
“Mas as pessoas vão comer ele.”
Em outras ocasiões ela cismava que um dos coelhos estava fraco e alertava o vendedor:
"Aquele coelho não está conseguindo beber água.”
A nossa jornada terminou na loja de animais do Mercado Municipal, onde vimos o mais bonito dos coelhos: branco, pequeno, sem manchas no pêlo, e em cujos olhos vicejantes pulsava uma infinita vitalidade. Na gaiola ao lado havia cerca de vinte coelhos, e um deles, branco e cinza, também bonito, quase não se mexia. Margot chamou a vendedora: “Aquele coelho ali não se mexe.”
A vendedora observou por alguns segundos: “É que ele está morrendo."
Margot nada respondeu. Apenas observou a vendedora abrir a gaiola. Os outros coelhos, que começavam a fustigar o companheiro agonizante, afastaram-se. Rápida, a mulher o apanhou pelas orelhas – o que fez com ele soltasse um espasmo e depois silenciasse – e, corredores da loja adentro, sumiu com o animal morto.
Não sei se (re) nasceu em nós a vagabundagem juvenil, não sei se foi o abandono que sempre surge no encalço da tristeza, ou se foi a ternura pelas coisas vivas. Perdemos muitas tardes perambulando pela cidade. Não tínhamos dinheiro, mas tínhamos um plano de vida comum: ela desenhara a planta do nosso futuro apartamento e íamos de comércio em comércio, conversávamos com os vendedores, pesquisávamos preços, escolhíamos móveis que nunca poderíamos comprar.
Mas isso não foi o principal daqueles dias. Sabíamos que em nosso apartamento haveria um coelho e naquela semana chegamos a visitar todas as lojas de animais da cidade. Os coelhos mais bonitos não estavam nas lojas chiques e perfumadas – os que mais nos agradavam eram os coelhos daquelas lojas de bairro, os quais ficavam apertados em gaiolas minúsculas e eram vendidos para abate.
Às vezes Margot julgava um coelho mais bonito do que os outros e, com desespero na voz, dizia:
“Mas as pessoas vão comer ele.”
Em outras ocasiões ela cismava que um dos coelhos estava fraco e alertava o vendedor:
"Aquele coelho não está conseguindo beber água.”
A nossa jornada terminou na loja de animais do Mercado Municipal, onde vimos o mais bonito dos coelhos: branco, pequeno, sem manchas no pêlo, e em cujos olhos vicejantes pulsava uma infinita vitalidade. Na gaiola ao lado havia cerca de vinte coelhos, e um deles, branco e cinza, também bonito, quase não se mexia. Margot chamou a vendedora: “Aquele coelho ali não se mexe.”
A vendedora observou por alguns segundos: “É que ele está morrendo."
Margot nada respondeu. Apenas observou a vendedora abrir a gaiola. Os outros coelhos, que começavam a fustigar o companheiro agonizante, afastaram-se. Rápida, a mulher o apanhou pelas orelhas – o que fez com ele soltasse um espasmo e depois silenciasse – e, corredores da loja adentro, sumiu com o animal morto.
Gostei, Daniel - embora triste.
ResponderExcluir._. tadinho
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