As manhãs de forte luz
não são para os corpos gastos;
os corpos batidos pelo
o que existe de mais ínfimo:
coração podre – um seixo
pela maré devolvido
ao areal, pedra inóspita,
pedra de nudez selvagem
como os olhos de uma fera.
As manhãs de forte luz
são alheias às vertigens
do real. Fumega o céu:
é um azul entre o plúmbeo
e o anil – azul erigido
sobre telhados vermelhos
sobre ventos de terra
sobre carne e olhos ardentes
e que ainda nesse dia
(ainda o azul, o ardor)
serão desejo e silêncio.
As manhãs de forte luz
são a morte do divino:
deus é uma palavra oca,
o amor é sono e febre
em corpos que se limitam
em beijos que se repetem
em corações que existem
apenas para o que não
existe – lume diáfano
e que, todavia, queima
como se fosse limpar
impuros corpos, impura
luz, impuro declinar
às horas mais viciosas.
As manhãs de forte luz
existem para o que irá
morrer e isso desconhece:
rosas com gosto de orvalho
carne com cheiro de infância.
O resto, em tais manhãs,
agoniza, ou boceja,
ou recebe com raivosa
tolerância as chagas
do inevitável exílio.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Continuo a gostar muito do que escreves.Será que posso um dia publicar este ou outros dos teus poemas no meu blogue ou em a companhia do poeta?Beijo
ResponderExcluir