domingo, 15 de fevereiro de 2009

Poema

Agora o sol arde-me sobre o rosto
mas passa o instante, e onde
há luz haverá apenas a memória da luz;
claro eco que também será
maculado e depois soterrado
pelas horas vindouras.

Ao relembrar essa transitória chama, a consciência
curva-se sobre si própria
como o homem que se curva sobre um poço
e pensa: algo morre lá no fundo.

Depois esse homem fecha os olhos,
respira o sopro que se ergue
e sobre o poço curva-se mais uma vez
apenas para perceber como as sombras
estão mais próximas:
lá na fundura, o que escuta
é o diminuto arfar de um animal
embora haja algo mais: a memória
de uma tarde de maio deixou de existir
e os rostos amados e a alegria
são estrelas em um céu que se afasta.

2 comentários:

  1. É um belo poema, Francoy. Fixar um momento da passagem do tempo, eis uma das nobres atribuições da poesia. Aqui você consegue fazê-lo muito bem.

    Saudações,

    Walter Cabral de Moura

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  2. Walter

    Obrigado pelo comentário e pela visita.

    Seja sempre bem vindo

    Daniel

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