domingo, 26 de abril de 2009

poema

POEMA PARA FICAR ALEGRE

Se me lembro dos seus olhos e fico triste
não vou ouvir sinatra e não vou beber conhaque
que isso aumenta a minha tristeza.
Vou ler aquele poema chinês escrito há mil anos
e que fala das acácias que perdem o cheiro
e da insensatez que é amar ou estar lúcido.
Depois vou até o fundo do quintal;
contemplo o céu estrelado, enluarado
e respiro os girassóis, as rosas, os jasmins.
Se a vida perdura, único milagre possível,
e se o aroma das flores volta após o inverno
porque não pensar que coisas simples e pequenas
- como o amor ou a tristeza de um homem -
tenham solução e que a alegria vai nascer
antes de raiar a próxima aurora?

domingo, 12 de abril de 2009

Poema

Hoje as ruas estão ermas
e a cidade fecha-se, enclausura-me
dentro de meus poemas.
Kavafis, saio em busca de Kavafis
ou de qualquer outro poeta
que ande por estas ruas:
Eliot transmudado em Tirésias,
Dante guiado por Virgílio, qualquer um.
Onde encontrá-los
no deserto onde só a minha voz ecoa?
Como cantariam eles a aridez da tarde
e os vivos e os mortos?
Como cantariam eles o silêncio
destas ruas que vazias esperam
os bárbaros que já aqui chegaram
e constituíram família?

domingo, 5 de abril de 2009

Poema

Irrompe serena a tarde de maio,
a tarde que nos leva até a praça
onde cada homem canta o seu exílio
e onde pungentes flores são vendidas
numa cidade, uma babilônia
ao mesmo tempo casta e bestial.
Assim permaneço, a contemplá-la
enquanto ela colhe rosas vermelhas
e respira o perfume dos jasmins
como um inaudito sopro de vida –
a centelha do amor que perseguimos
enquanto vem o brando entardecer,
o derradeiro ardor do sol poente
e as sombras adejando sobre a casa,
mas agora a casa está redimida:
há um vaso com lírios e crisântemos
na sala de jantar, o que convém
à imensa fragilidade da carne.