domingo, 18 de janeiro de 2009

trecho

Cansado das perguntas, Oklahoma deixou que o pensamento voasse para idéias mais agradáveis. Evocou Steinbeck, Ratos e Homens, relatos sobre a depressão dos anos 30. Havia beleza e, mais do que isso, havia dignidade na miséria exposta em tais narrativas. Como se as estradas e as paisagens por onde aqueles homens perambulavam em busca de trabalho compusessem um cenário que, para além de todo o horror, comportava esperança e novidade. E os homens que protagonizavam essas narrativas também pareciam guardar essa crença na esperança e no novo. Eram, por assim dizer, homens ideais caminhando por uma terra ideal, e era a bravura desses homens e a pureza dessa luz que Oklahoma ansiava quando formulara, a si próprio, o desejo de caminhar sob o sol e ser igual a todos. Mas o que Oklahoma julgava ter existido antes (em outro lugar, com outros indivíduos) era uma mentira; ele sempre soubera disso, mas havia tanta beleza nessa farsa que Oklahoma optara por manter a fé em algo que nunca acontecera. E por um momento – no começo de suas preparações para os concursos, logo após a conclusão do romance – acreditou que este poderia ser um Deus que seguiria e que nunca morreria: o Deus da Mentira Vital, ou seja, o Deus que o protegeria de toda a verdade sobre a mesquinharia existente em si próprio e também nos outros, o Deus que o manteria um homem belo e forte entre homens igualmente fortes e belos. Mas – agora percebia isso todas as manhãs – aquele que se revelera como um Messias não era mais do que um falso profeta; de modo que Oklahoma, à medida que se fundia à massa humana que o cercava, mais se fundia ao triste cheiro que vinha dos outros candidatos. Para onde quer que ele olhasse, enxergava desespero, avidez, egoísmo, a disposição de vender-se e de traparecear por qualquer quinquilharia.

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