segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

garotas

MONIKA

Alegrou-me saber que Monika
estudava agronomia.
É um curso para homens, diria
Lucas, mas eu, ao vê-la
imaginei que os olhos escuros
e que a clara pele afogueada pelo sol
cheirassem a erva e a sementes
e a flores queimadas pelo orvalho
e a terra encharcada pelas chuvas
e a frutos doces e maduros
caídos no chão, quando o cansaço
da terra torna-se um cicio
que é o réquiem dos meses quentes.
No entanto, Monika bocejava
quando a vi pela segunda vez.
Ao perceber-me, ela riu
e foi como se o último dos pássaros
voasse para o norte.
No rosto, o rubor empalidecera
e os olhos escuros estavam rachados
pela aridez e pela exaustão.
Todavia, continua linda – pensei
em silêncio, indagando-me
sobre a hora gloriosa em o que sangue
se incendiaria; chamado
que traria de volta as aves em exílio.
Monika, absorta, praguejava
contra o excel, contra as rutilantes planilhas
que bebem a luz que é apenas percebida
após ter estiolado a si própria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário