sexta-feira, 20 de maio de 2011

Para Carolina, Que Escreveu Um Poema Durante a Aula de Matemática (modificado)



Também para isso servem
as aulas de matemática:
tantos números, tanto sono,
tantas palavras presas
aos olhos que adormecem – erva
que cresce porque é erva.


E erva não é apenas
um cadáver ou a relva
pisada durante as tardes
e respirada nas manhãs:
suor de orvalho evaporado.


Erva também é frêmito
e o que mais arqueja
sob a pele: garganta
que é um rio aprisionado,
coração que sufoca
porque deixa de ser sangue
para ser algo estragado.
Algo que ao sol levamos;
ao sol, aos ventos, ao
precário piano que é
a juventude. 


Cabelos úmidos de orvalho,
olhos gotejantes de sono
a manhã fria e o frêmito
que é levado ao sol, aos ventos
e ao mole cheiro dos gizes.
Raiva que pode ser ternura
pois também para isso servem
as aulas de matemática:
para que uma funda palavra
risque a manhã e depois,
percebida oca, afunde
e alcance uma fundura tal
que seja possível voltar para casa.

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