quinta-feira, 21 de junho de 2012

Cantiga Com Nomes de Flores


Pequenas pétalas roxas
e rosas nascidas próximas
aos tijolos empilhados
no fundo do quintal, não
longe dos escorpiões
e não longe do dulçor
dos abertos frutos do conde.

Eram pétalas miúdas
que ninguém sabia o nome.
São flores do brejo, disse
a mulher que eu amaria.
São flores do brejo e lá
onde nasci até adornam
alegres buquês de noivas.

Flores do brejo, pequenas
pétalas roxas e rosas
que murchas se evaporaram
entre os pomares da infância
e vãos altares do amor.
Flores da chuva, tapete
amarelo que o aguaceiro
estendeu sobre jardins -
sobre tais caminhos fui
ao deixar de ser menino.

Flores da chuva, crepúsculo
puído pela luz puída,
mortiça e suave sombra
curvada sobre a cidade.
Vinde cá, meu coração,
meu primeiro secretário,
faz canção a sua dor
e torna canção a dor
de esquálidas margaridas
que a chuva antes ceifou
de eu lhes cantar o esplendor.

Vinde cá, neves de antanho,
violetas que o temporal
levou. Vinde cá, estrelas
do céu frio. Vinde cá, flores
que aprendi a nomear
ao me tornar pietá
curvada sobre mãe triste:
lírios comprados na praça,
jasmins em vasos rachados,
rosas de uma casa escura
e lá fora a Babilônia
que Ítaca se transformou.

Vinde cá, meu coração, 
eterno rei coroado
por aquilo que não tem.
Vinde cá na penumbra
da aurora.Vinde cá e olha
este vaso de tulipas
que fantasma aqui deixou
para encarnar o vazio.

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