sábado, 23 de junho de 2012

Meu Nome É Meu Coração


Meu nome é meu coração.
Meu nome: não mais do que o vento
erguendo poeira no dia seco.

Vêm as manhãs em que não se consegue respirar.
Vem a garoa fina a gotejar dos beirais do telhado.
Vem um torvelinho de folhas mortas e terra vermelha.
Vem um miserável com a carne em chagas.
Vem um cão ferido após a chuva.
Vêm carcaças de animais na estrada quando volto para casa.
Vem a ruína de uma esquina que permanece.
Vem um clarim fúnebre a reverberar
o epitáfio do último homem a morrer
e tudo conclama o meu nome
porque o meu nome é o meu coração
e o meu coração é aqui morrer.

Vem a exaustão após o amor.
Vem a pele fria de abandono.
Vem corpos unidos como numa escultura de Rodin
mas que artesão nenhum sabe preservar
e cujo bronze é todos os dias roído e quebrado
pela brisa salgada de uma lágrima
fundida ao gozo e no coração trêmulo de silêncio
enrodilham-se verdade e mentira.
Vem uma palavra após a outra.
Vem uma palavra tantas vezes dita e se torna sombra
do que tantas vezes foi calado.

Meu nome é meu coração:
meu nome que quer se somar a outro nome,
meu coração que quer se somar a outro coração,
mas sempre é apenas o meu nome
e sempre é apenas o meu coração.

Vem a véspera de um canto de exaltação.
Vem uma casa erguida sobre o barro.
Vem a alegria de viver nesta casa.
Vem Cronos a devorar o filho e depois o filho do filho.
Vem uma tulipa vermelha que tento partilhar
como se partilhasse o meu coração
porque o meu nome é o meu coração
e o meu coração está trêmulo de silêncio.

Vem a véspera de um canto de despedida.
Vem uma mágoa que me diz o seu nome
e então pede esqueça o meu nome.
Vem um coração que não me pertencia
mas sujo com o meu sangue e diz o seu nome
e então pede nunca esqueça o meu nome
e eu apenas digo o meu nome é o meu coração
e o meu coração é não esquecer.

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