sábado, 2 de junho de 2012

Poemas Revisitados: Descobrindo Ítacas (em dezembro de 2010)



Tantas vezes coube o céu em meus olhos
que o próprio céu se mudou em raiz
saída da fundura mais doída.
Entrava nova estação e eu sabia
que luar a cingiria e qual fogaréu
traria as cinzas do dia futuro.
Era belo, mas também magoava
e deste encanto onde cantos eu
buscava vinha a idéia de que Ítaca
era minha e era o que me bastava.

Mas Ítaca não existe se não
existe casa para trás deixada.
Preciso é que a distância se desdobre
não em algo maior ou nunca visto
mas em algo que o sangue não conheça
como seu, ainda que imagens gêmeas
sejam dos muitos dias repetidos.
Eis o luar, o lusco fusco,
o luar embebido em luz, fogo leve,
não diverso da brandura de abril
embora lá outubro agonizasse.

Um mundo multiplicado em espelhos
é imenso ou é repetição?
Longe, encontrei beleza daqui
diferente, mas o que me aturdiu
é que o pólen de todo o coração
é soprado por um único deus
ou é vestígio de única ruína.
Longe, outras ítacas encontrei
e quanto mais eu as tornava minhas
mais a casa deixada para trás
era dor que ia do branco ao vermelho.

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